Acordei, meditei, caminhei e então vim à biblioteca trabalhar um pouquinho. Encontrei Yolanda, outra pessoa linda que me mostrou o seguinte texto de Luis Camnitzer, artista, curador da Bienal do Mercosul e gênio.
O cara veio com essa:
No transcurso dos anos sinto que o meu interesse na arte foi diminuindo, e no seu lugar foi aparecendo uma fascinação pela poética. Não que eu esteja descartando a arte. Essa segue sendo uma importante forma de facilitar a conexão de idéias que normalmente presumimos impossíveis de conectar e, como sempre, ainda nos possibilita ver uma metodologia para expandir as fronteiras do conhecimento. Mas no último meio século aconteceram duas coisas: por um lado, a arte foi se reduzindo até ser apenas uma forma a mais, entre muitas, de produção de objetos de consumo. Por outro, com o tempo a função da ética também parece ter mudado. Na minha juventude as decisões que se tomavam com respeito à ética eram relativamente simples - a pessoa era ética ou não era.
Hoje as circunstâncias nos levaram a um ponto que a ética se converteu numa arma subversiva, um instrumento ativo de resistência - quiçá o único instrumento que nos resta. Antes, as posições éticas levavam às polêmicas e às operações políticas. Com elas tratava-se de melhorar ou purificar o mundo; incluiam idealismos que chegavam ao extremo de admitir as guerrilhas revolucionárias. Hoje tudo isso parece perder, não somente o seu caráter coletivo, mas também o seu potencial de comunicação. Num mundo governado pela cobiça, a corrupção e os fundamentalismos apoiados pelas repressões física e mentalmente violentas, o comportamento ético somente parece servir para nos diferenciar. Serve para manter uma identidade que nos afasta do desenfreamento. Já não falamos mais de atos revolucionários, mas de atos dissociativos.
Essa separação, no entanto, não significa lavar as mãos. Significa que a repressão nos levou à modéstia forçada de criar uma esperança no contágio, de tratar de dar o exemplo. Ainda que tomar uma posição ética hoje somente sirva como um gesto, ao menos trata de humilhar a quem não compartilha a mesma posição. Com ela sinalizamos o feito de que não somente não formamos parte da corrupção, mas que nos opomos a ela. Informamos a quem saiba escutar de que estamos tratando de cuidar de um legado.
Essa realidade, claro, não invalida o exercício da arte. Mas lhe dá uma direção distinta, redefine a sua função. Hoje fazer arte é uma tarefa muito mais difícil e complexa. Já não se trata do velho jogo de mensagem política aprisionado em uma declaração. Trata-se de algo muito mais importante e inevitável. E segura e infelizmente, muito mais fútil.
09 março 2009
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